terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Visita à Canoinhense


Canoinhas - SC, 12/fev/2010


Fizemos uma pausa nas visitas às cervejarias e passamos dois dias literalmente dentro uma vinícola em Bento Gonçalves, a capital brasileira do vinho. A Casa Valduga investe no enoturismo e criou a Villa Valduga para hospedar seus clientes turistas. São oferecidos aos hóspedes, e nós tivemos o prazer de desfrutar, além da confortável pousada, um curso sobre vinhos, degustação, um excelente restaurante e toda uma atmosfera de charme que o universo do vinho proporciona. Imperdível pra quem visita o Vale do Vinho. Mas, como o meu blog e minhas férias são cervejísticas, lá vamos nós.

Acordamos na manha da 6a feira, 12/fev, com muita ansiedade de conhecer a lendária Cervejaria Canoinhense e suas cervejas. Teríamos que enfrentar mais de 450 km de estrada até a cidade de Canoinhas e o tempo não passava. Aliás, as horas passavam, mas sempre parecia que faltava muito, de forma que eu começei a achar que não chegaria a tempo de encontrar a cervejaria aberta e muito provavelmente eu não poderia matar a curiosidade e colocar esta cervejaria no meu curriculo. Isso porque no dia seguinte e nos próximos seria carnaval e muito provavelmente eles não iriam abrir.

Chegando em Canoinhas e nos informando sobre como chegar à fábrica, descobrimos que a cervejaria se confunde com o seu principal personagem, o Sr. Rupprecht Loeffler, o meigo mestre cervejeiro de 92 anos (!).

- Senhor, uma informação por favor, onde fica a Cervejaria Canoinhense?
- A Loeffler?
- Sim.
- Ah, faz assim ó ...

Quando finalmente chegamos, eu mal pude esperar a Daniela estacionar o carro e quando percebi, lá estava eu dentro daquele cenário que me era familiar pelas inúmeras fotos que vi pela internet.

O Sr. Rupprecht Loeffler não estava na sua mesa de trabalho onde costuma passar grande parte do seu dia e eu tive medo de perguntar sobre ele. Fomos recebidos por um de seus funcionários, que depois de uma pergunta sutil me respondeu que o Sr. Loeffler havia acabado de se recolher para sua residência. Fiquei aliviado por saber que o Sr. Loeffler encontra-se em plena atividade de cervejeiro, mas senti um grande pesar de não poder conhecê-lo.


Sr. Rupprecht Loeffler. Foto pública da Wikipedia.


Pra quebrar o gelo do início da visita, uma Mocinha. Não uma senhorita, a cerveja Mocinha, uma das 4 produzidas pela Canoinhense.

A Cervejaria Canoinhense foi fundada pelo pai do Sr. Loeffler em 1908 então deve ser a mais antiga cervejaria artesanal em produção no Brasil! Deve ter sido uma fábrica à frente do seu tempo com os inúmeros e impressionantes equipamentos desenvolvidos pelo seu fundador. Mas hoje, é genuinamente artesanal. Só não é mais artesanal que as caseiras.

Vou tentar apresentar-lhes a cervejaria e seus equipamentos, seguindo a ordem dos processos produtivos, mas nada substitui uma visita, nem mesmo as imagens.

O malte é moído neste moinho de madeira, e depois transferido manualmente para a o tanque de cozimento.


Moinho de grãos


O cozimento do malte tem como fonte energética a lenha, colocada num queimador.


Fogão a lenha


De acordo com o funcionário que nos guiou, a mosturação que é feita sem um controle de termperatura, e a lupulagem/fervura do mosto, ocorrem neste belo tanque em cobre, que tem até pás giratórias para homogenização da mistura.


Tanque de mosturação e fervura


O mosto é transferido então para o seu "chiller", uma bandeja em inox, de aproximadamente 5m x 3m e 20cm de altura e refrigerado a ar por um ventilador.


A bandeja chiller com o ventilador ao fundo


Quando atinge a temperatura de aproximadamente 20 C, o mosto é transferido para o tanque de fermentação. O primeiro não cilindrico que eu vi. Mal pude notar uma tampa. Airlock nem pensar. Morrendo de dúvida, perguntei e o funcionário me respondeu que não há histórico de perda da produção por contaminação. Ufa!


Tanque de fermentação


A cerveja depois de fermentada é transferida para barris de carvalho alemão, que hoje só são utilizados para auxiliar o envase. Não têm mais a função de armazenamento para conferir propriedades de aroma, sabor e cor à bebida.


Barris de carvalho alemão para envasamento.


As garrafas, depois de lavadas manualmente com uma escova num tanque, passam por um processo de sanitização nesta máquina que parece uma roda gigante e coloca em contato as garrafas com uma solução sanitizante disponível na metade inferior, que é uma bacia.


Equipamento para sanitização das garrafas


Depois, as garrafas são colocadas num rack, de cabeça pra baixo, e ficam aguardando o envase. Perguntei se antes do envase elas passariam novamente por algum outro processo, ao que fui informado que não, elas estavam prontas para receber a cerveja. Deus deve ser mesmo muito amigo deles!

Os chopps recebem uma dose de açucar para carbonatação. As cervejas são pasteurizadas e carbonatadas artificialmente, mas ambas as bebidas são envasadas em garrafas de vidro (cerveja, coca-cola, fanta, e etc.) e de pet. A pasteurizadora, uma bacia também em inox com capacidade para umas 800 garrafas, também tem aquecimento da água com forno a lenha. São 3 portas.


Pasteurizador


Os chopps, depois de engarrafados, passam por um equipamento muito curioso. Cada lado da máquina tem um suporte para 3 garrafas, que são acopladas pelo gargalo, cada uma a um balão de aço. Gira-se este suporte, de forma a deixar as garrafas de cabeça para baixo. Por gravidade, o líquido das garrafas é transferido para o interior do balão. Abre-se então a válvula do cilindro de CO2,  pressurizando o balão com a cerveja. Gira-se novamente o conjunto que forma que agora os balões ficam sobre as garrafas de cerveja de cabeça para cima. Abre-se a válvula do balão de forma que, por diferença de pressão, o liquido gaseificado é transferido de volta para a garrafa. Veda-se a garrafa e pronto: chopp pronto para consumo.


Curioso equipamento para carbonatação artificial da cerveja.


Ficamos ainda algum tempo no bar da fábrica aguardando um possível retorno do Sr. Loeffler, que não aconteceu, degustando a Nó de Pinho, a cerveja tipo Kulmbach. Na minha opinião, a melhor das 4.


O bar da fábrica


A Canoinhense produz atualmente uns 1.300 litros/mês das 4 cervejas/chopps:

  • Nó de Pinho, tipo Kulmbach, alta fermentação, 3,2 % ABV;
  • Mocinha, lager com 2,0 % ABV;
  • Jahu, lager um pouco mais amargar e mais alcoólica que a Mocinha;
  • Malzbier.



Quem quiser conhecer a especificação delas, sugiro assistirem ao programa 30 da Bytes and Beer.
Ou então podem encontrar-nos no Frei Tuck. Estou levando 2 kits com as 4 cervejas para uma degustação do pessoal da Acerva Mineira.


A fachada da fábrica e sua semelhança com indústrias alemãs do séc. XIX


O meu objetivo para este post é reconhecer o trabalho do Sr. Loeffler e sua paixão (esqueci de mencionar antes que ele bebe 1 ou 2 cervejas todos os dias) pelo trabalho como cervejeiro artesanal, bem como despertar a curiosidade do leitor pela cerveja, pela cervejaria e pelo Sr. Loeffler. Espero que vocês estejam com a mesma vontade que eu de voltar à Cervejaria Loeffler e degustar uma cerveja ao lado do mais experiente cervejeiro artesanal em atividade.

Prost!


Contatos:
Rua 3 de maio, 154 - Centro
Canoinhas - SC
Telefone: (47) 3622-0358

4 comentários:

  1. S E N S A C I O N A L !!!
    . pena q está acabando, não ?
    . acabando nada, agora é q vai começar [garanto]
    . parabéns totais Uaauuu!!
    . acho q vou acabar como o Sr Rupprecht Loeffler
    . mas sem gravata (usei por + de 30anos)
    . só o copo
    . tiodindo wpmonken
    . boa viagem e ñ bebam na estrada

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  2. Dindo, como você bem mencionou, estamos apenas começando, assim como o movimento cervejeiro no Brasil. Apenas para filosofarmos um pouco, penso que tudo nesta vida é cíclico. Quando um ciclo termina, outro está apenas começando. Bj, Marcos.

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  3. Parafraseando meu amigo LF: "assim como são os homens, são as criaturas"!!! Ok, whatever...

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