sábado, 3 de julho de 2010

Um pouco de História

Cerveja é cultura e História.

Seguem as imagens dos originais e texto de condenação do Alferes Joaquim José da Silva Xavier, os quais se encontram sob a guarda do Arquivo Nacional no Rio de Janeiro.
Transcrição das folhas 57, 90 e 90 verso do 9º volume do códice 5

“ Sentença proferida contra os Réus do Levante e conjuração de Minas geraes.

          Acordam em Relação os da Alçada etc. Vistos estes auto, que em observância das Reais ordens se fizeram sumários aos vinte e nove réus pronunciados, conteúdos na relação de folhas 14 verso, Devassas, perguntas, apensos e defesa alegada pelo Procurador que lhes foi nomeado etc.
          Mostra-se que na Capitania de Minas alguns vassalos da dita Senhora, animados de espírito da pérfida ambição, formaram um infame plano para se subtraírem da sujeição e obediência devida à mesma Senhora, pretendendo desmembrar e separar do Estado aquela Capitania, para formarem uma república independente, por meio de uma formal rebelião, da qual se erigiram em chefes e cabeças, seduzindo a uns para ajudarem e concorrerem para aquela pérfida ação, e comunicando a outros os seus atrozes e abomináveis intentos, em que todos guardavam maliciosamente o mais inviolável


[...] prova, que especificamente soubessem da conjuração e dos ajustes dos conjurados, mas que somente souberam das diligências públicas, e particulares, que fazia o réu Tiradentes, para induzir gente para o levante, e estabelecimento da república, pelas práticas gerais que com ele teve, ou pelos convites que lhes fez para entrarem na sublevação, suposto que não estejam em igual grau de malícia e culpa como os sobreditos réus, contudo a reserva de segredo de que usaram, sem embargo de reconhecerem, e deverem reconhecer a obrigação que tinham de delatar isso mesmo que sabiam, pela qualidade e importância do negócio, sempre faz um forte indício da sua pouca fidelidade, o que sempre é bastante para estes réus ao menos serem apartados daqueles lugares onde uma vez se fizeram suspeitosos, porque o sossego dos povos e conservação do Estado pedem todas as seguranças para que a suspeita do contágio da infidelidade de uns, não venha a comunicar-se e contaminar os mais.
          Portanto condenam o réu Joaquim José da Silva Xavier, por alcunha


por alcunha o Tiradentes, alferes que foi do Regimento pago da Capitania de Minas, a que, com baraço e pregão seja conduzido pelas ruas públicas ao lugar da forca, e nela morra morte natural para sempre, e que depois de morto lhe seja cortada a cabeça e levada a Vila Rica, onde no lugar mais público dela, será pregada em um poste alto, até que o tempo a consuma, e o seu corpo será dividido em quatro quartos, e pregados em postes, pelo caminho de Minas, no sítio da Varginha e das Cebolas, onde o réu teve as suas infames práticas, e os mais nos sítios das maiores povoações, até que o tempo também os consuma, declaram o réu infame, e seus filhos e netos tendo-os, e os seus bens aplicam para o Fisco e Câmara Real, e a casa em que vivia em Vila Rica será arrasada e salgada, para que nunca mais no chão se edifique, e não sendo própria será avaliada e paga a seu dono pelos bens confiscados, e mesmo chão se levantará um padrão pelo qual se conserve em memória a infâmia deste abominável réu; [...]”


Devassa 1 Pag 57

Devassa 2 Pag 90

Devassa 3 Pag 90 (verso)

Liberte-se!

Rótulo

Esboçado numa mesa de bar e desenhado às pressas pelo Emiliano Quintela, um amigo meu ex-Vale, o primeiro rótulo da Cerveja Inconfidência foi uma forma de expressar “Tenho rótulo, logo sou uma cerveja”, simples como Descartes.

Serviu para a brassagem de Natal 2009 e foi parar até na Revista VerdeMar, numa matéria sobre cervejas artesanais de BH. Quem o tem que o guarde, pois pode valer uma fortuna no futuro. Rsrsrsrsrs.

DSC_0007Primeiro rótulo Cerveja Inconfidência

Mas, assim como a Tiradentes ESB, que evolui a cada brassagem, nosso rótulo merecia uma evolução e por esse motivo foi desenhado pelo designer grafico e cervejeiro artesanal de BH, Pablo Carvalho.

E depois de muita pesquisa nasce o rótulo definitivo da Tiradentes ESB que está ansioso para se deitar sobre a garrafa e lhe proporcionar um grade prazer.

Finalizo esse post com uma frase que estará presente no contra-rótulo e que sintetiza a essência do movimento cervejeiro atual no Brasil…

“Se todos quisessem, poderíamos fazer do Brasil uma grande nação”
Joaquim José da Silva Xavier.
Eu complemento … uma grande nação cervejeira.

rótulo

Liberte-se!

sábado, 26 de junho de 2010

(in)eficiência

Como uma forma de estudar um pouco esse negócio de gravidade potencial e eficiência, resolvi pesquisar um pouco e fazer os cálculos da minha última Tiradentes ESB e comparar com o gabarito do BeerTools, que é o programa que utilizo pra minhas produções.

Eficiência, para qualquer processo e não só para brassagens, é uma medida relativa entre a sua performance e o potencial para aquele processo.

Para brassagens, a eficiência mede o quanto o processo conseguiu extrair do que o malte tinha de potencial.

Eficiência % = (resultado/potencial) *100

Quanto maior a eficiência, menor é a quantidade de malte necessária para um determinado volume de mosto, ou por outro lado, maior é o volume de mosto de mesma OG produzido com a mesma quantidade de malte. Essa é a importância de se buscar uma eficiência cada vez maior nas suas brassagens. Como é a primeira vez que eu meço a minha, diria que ainda estou na ineficiência.

DSC_0741 
Vamos às contas!

Primeiro, devemos conhecer a gravidade potencial dos maltes da receita escolhida. Neste exercício, foi mais uma brassagem de 19 litros da minha Tiradentes ESB:
  • 4,00 kg de malte pilsen da Agrária;
  • 500 g de malte vienna da Weyermann;
  • 500 g de malte carared da Weyermann;
  • 100 g de malte caramunich da Weyermann;
  • 100 g de malte carafa I da Weyermann;
O próximo passo é conhecer a gravidade potencial de cada malte, em pontos de gravidade. Por exemplo, 34 pontos de gravidade correspondem a uma gravidade original específica (OG) de 1,034.
Além disso esses pontos de gravidade são para uma determinada massa de maltes em um determinado volume de mosto. O BeerTools utiliza pontos de gravidade pra cada libra de malte em 1 galão de volume de mosto.

As gravidades potenciais (OGP) em pontos de gravidade pra cada malte da minha receitacsão as seguintes:
  • OGP(pilsen) = 35,0
  • OGP(vienna) = 35,5
  • OGP(carared) = 32,2
  • OGP(caramunich) = 32,4
  • OGP(carafa) = 33,4
Esses valores foram calculados pelo programa e são função de alguns parâmetros do malte e do processo de malteação. Existem maltes previamente cadastrados no BeerTools, e imagino que em outros programas também. No meu caso, fui além e entrei com os valores fornecidos pelas maltarias no cadastro de um novo malte na minha base de dados e o programa calculou as OGP’s sozinho. Para maiores informações sobre o potencial de cada malte, leiam o post do Ricardo Rosa no seu blog Cervejarte

malte pilsen

Agora, devemos converter os pontos de lb/gal para g/l
Considerando 1 lb = 453,6 g e 1 gal = 3,785 l
então, 1 lb/gal =  119,84 g/l

Os pontos de gravidade potencial pra cada g/l são:

  • OGP(pilsen) = 35 / 119,85 = 0,292
  • OGP(vienna) = 35,5 / 119,84 = 0,296
  • OGP(carared) = 32,2 / 119,84 = 0,269
  • OGP(caramunich) = 32,4 / 119,84 = 0,270
  • OGP(carafa) = 33,4 / 119,84 = 0,279
Agora, multiplicando estes valores pela massa (g) de cada malte na receita e dividindo pelo volume de 19 litros de mosto, temos a OGP que cada malte contribui pra OGP total da receita:
  • OGP(pilsen) = 0,292 * 4000 / 19 = 61,5
  • OGP(vienna) = 0,296 * 500 / 19 = 7,8
  • OGP(carared) = 0,269 * 500 / 19 = 7,1
  • OGP(caramunich) = 0,270 * 100 / 19 = 1,4
  • OGP(carafa) = 0,279 * 100 / 19 = 1,5
Por fim, a gravidade potencial deste mosto é a soma das OGP’s de cada malte:

OGP = 61,5 + 7,8 + 7,1+ 1,4 + 1,5 = 79,3
OGP = 1,079

Para chegarmos finalmente à eficiência desta brassagem, basta agora dividirmos a gravidade real (OGR) pela gravidade potencial (OGP). No meu caso, a OGR medida no densímetro foi 1,051

Sendo assim, a minha (in)eficiência = 51 / 79 *100 = 64,5 %
Como se vê na imagem abaixo, confere com os cálculos do BeerTools

ESB
Próximo post ... amargor desta mesma brassagem.


Liberte-se!

terça-feira, 15 de junho de 2010

Chegaram meus maltes!

Estes 75 kg de malte são parte da minha última encomenda de 90 kg!
Aos poucos chego lá!
Sábado tem brassagem da Tiradentes ESB, que em breve terá um rótulo definitivo. Aguardem...


Considerando uma relação de 5 kg de malte pra cada 20 litros de cerveja, teremos aproximadamente 360 litros de cerveja para os próximos meses.

Liberte-se!

domingo, 14 de março de 2010

Festa de 3 anos da CONFECE

Morro do chapéu, 13/03/2010



Falar em festa de arromba é pouco, a coisa foi absurda. As meninas da Confece - Confraria Femina da Cerveja - arrasaram em um evento organizadíssimo e agradabilíssimo, para dizer pouco. A CONFECE é a primeira Confraria Feminina de Cerveja do Brasil. O grupo foi formado no dia 8 de março de 2007 e, desde então, se reúne mensalmente para degustar e estudar os diversos tipos de cerveja com o objetivo de estimular o consumo responsável, dirigindo seus encontros para a qualidade da bebida.

Eis que chega o terceiro aniversário, comemorado em grandioso estilo no sábado 13/03/10. Parecia coisa de mega show de rock. Tinha ingresso, pulseira, mapa... Os convidados eram recebidos logo na entrada com um kit contendo abridor de garrafas e copo personalizado da Confece. Uma formosa propriedade em um dos condomínios mais charmosos de Belo Horizonte abrigava o evento, com direito a varanda com vista para a serra e ao fundo a cidade alheia ao frenesi das montanhas. Os convidados podiam circular entre 3 ambientes cuidadosamente preparados onde dezenas de rótulos de cerveja e os melhores chopes de BH eram oferecidos à vontade.Chegando lá, o primeiro comentário que eu escutei veio do meu amigo Alencar, colega de AcervA Mineira: "Pelo amor de Deus, não me socorre não, eu quero morrer aqui!!".

Com o patrocínio das principais micro cervejarias e lojas de bebidas da cidade, a visão era inebriante: tambores e tambores cheios de gelo e cervejas de todo o tipo, de tripel a pilsen, belga, inglesa, brasileira, artesanal, local ou premium. Chope? 8 opções entre Krug, Falke e Vinil! Acho que juntando tudo dava o BJCP inteiro ali! Na mesa de tira-gostos desfilavam sushis, presuntos, queijos, pães, carnes, tudo farto e delicioso. As meninas ainda sortearam kits, copos, cervejas e brindes dos patrocinadores e apoiadores. A excelente sonorização ficou a cargo do Clube do Vinil, que também contribuiu com duas deliciosas opções de chope: Weiss Tropicália e ESB Baba O'Riley. Figuras carimbadas do mundo cervejeiro belorizontino marcaram presença e abrilhantaram o evento. A Acerva Mineira também estava lá em peso! Se o sucesso de uma festa fosse medido em sorrisos, precisariam mudar a escala pra registrar essa, que ultrapassava qualquer parâmetro. Para todo o lado todos sorriam, se abraçavam e brindavam em um ambiente de plena celebração.

As meninas superaram qualquer expectativa. Além de seu conhecimento sobre cerveja, demonstraram uma capacidade organização e união admiráveis, proporcionando um evento histórico e irretocável. Parabéns, que venham muitos aniversários e que eventos desse nível possam se tornar um padrão nas confraternizações que festejam boa cerveja, música e amizades. A vontade de todos era que o tempo parasse e a festa durasse pra sempre. Parabéns, meninas, parabéns Confece!!!





Veja mais fotos em:
http://picasaweb.google.com.br/Marcos.Daniela.2009/201003Festa3AnosDaCONFECE?feat=directlink

Texto por Márcio Rossi

sábado, 13 de março de 2010

Curso de análise sensorial

Nova Lima, 06/03/2010


Nas nossas brincadeiras amadoras de análise sensorial das cervejas especiais que costumamos beber, o olfato e paladar da Daniela sempre se mostram mais sensitivos que os meus.


Eu simplesmente não consigo identificar cravo nas weizens!!!! Preciso treinar.


Eis que eu recebo um email no grupo de discussões da Acerva Mineira convidando para um curso de análise sensorial. Imediatamente nos inscrevemos.


O curso organizado pelo Luiz Henrique, foi realizado na fábrica da Áustria Bier em Nova Lima e contou com a presença do pessoal do Vale do Aço, Juiz de Fora, Patos de Minas, Uberlândia e BH.



Os instrutores Gabriela Montandon, Paulo Patrus e Alfredo Figueiredo são simplesmentes fantásticos. Tanto no conhecimento técnico do assunto off-flavours quanto na simpatia.



Seguem os off-flavours que experimentamos e a minha percepção deles:

  • DMS - milho verde, mingau de milho. Não senti no paladar, somente no olfato;
  • Acetaldeído - a literatura e a percepção da maioria sugerem maçã verde. Pra mim, éter, cheiro de hospital, acetona talvez. E depois de muitas tentativas, bala de maçã verde;
  • Diacetil - cheguei lá: manteiga rançosa, gordura hidrogenada usada em confeito de bolo;
  • Ácido Sulfídrico: ovo. Mais uma na mosca! Incrivelmente, a Daniela não percebeu;
  • Ácido isovalérico: cheetos, mercado central (aquela ala com queijos curados);
  • Papel: só percebo no paladar, não no olfato;
  • Mercaptano: cheiro de lixo! Vala de canto de rua!
  • Light struck: esse efeito ocorre quando a cerveja é exposta à luz visível, por exemplo quando envasadas em garrafas de vidro que não filtram comprimentos de onda de 400 a 520 nm. Resultado: Heineken!

Saí do curso super feliz, eu não sou "cego" !!!! Mas devemos treinar muito, e o faremos com o maior prazer.


Devo lembrar que a concentração utilizada no curso foi de 6 vezes a concentração que as pessoas começam a perceber os off-flavours.


Que venha o próximo curso e o cravo da weizen que me aguarde.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Visita à Bodebrown

Curitiba - PR, 13/fev/2010


Última visita das nossas férias cervejísticas.

Conhecemos 13 cervejarias, mas acima de tudo, muitas pessoas. Pessoas que mantêm a tradição de suas famílias. Pessoas que empreendem. Pessoas de vêm fazendo cerveja a vida inteira. Constituiram família e geraram novos mestres cervejeiros. Contadores de estórias. Pessoas que entraram para a história. Pessoas apaixonadas. Amantes da cerveja. Cervejeiros jovens mestres, cervejeiros experientes alunos. Enfim, pessoas que unem água, malte, lúpulo e levedura e os transformam num produto de socialização e bem estar. Assim foram nossas férias inesquecíveis que deixaram em nossas bocas, além do delicioso sabor do lúpulo, uma vontade de quero mais.

Pra resumir a nossa viagem eu gostaria de parafrasear o Ricardo Rosa, da Acerva Carioca, que no seu blog diz que "A quantidade e a qualidade de amigos crescem proporcionalmente à quantidade e à qualidade de suas cervejas". Eu tomo a liberdade de adequar esta frase para à nossa viagem e penso que:

A quantidade e a qualidade de amigos crescem proporcionalmente à quantidade e à qualidade dos cervejeiros que você conhece

E não poderia ser diferente com o pessoal da Bodebrown, de Curitiba, que fecha com chave de ouro esta série de visitas.


Foi por acaso (ou não) que conhecemos a cervejaria. O cervejeiro artesanal de Curitiba Rafael David, não sei como, descobriu o meu blog. Ele sabia que nós estaríamos chegando em Curitiba na 6a feira, dia 12/fev, e no seu comentário num dos post nos "intimou" a conhecer a Bodebrown. Deixou telefone, endereço e disse que estariam reunidos lá para uma brassagem no sábado, 13. A brassagem não aconteceu na cervejaria, então o Rafael não pôde estar lá e não nos conhecemos pessoalmente, mas eu fui recebido por ninguém menos que o Samuel Cavalcanti, o dono da Bodebrown, que se mostrou pra mim ser um cara com um conhecimento técnico como poucos!








Eu simplesmente não sei como classificar a Bodebrown. Microcervejaria? É muito mais que isso! Escola? É fato que tem um laboratório melhor que o de muitas escolas de Engenharia Química e Biologia, mas ainda é pouco. Um ponto de encontro e difusão da informação? Sim, certamente, mas não é só. Uma biblioteca? Também. Uma loja de venda de equipamentos e matérias primas? Sim, claro! Incubadora? Por que não? Com a assessoria técnica disponível, até eu faria uma boa cerveja. Brew section? Inovadores, eles trouxeram este conceito para o Brasil e extraem muito conhecimento das "seções de produção". A Bodebrown é tudo isso e é dotada de excelência em todos estes aspectos.




A blibioteca Bodebrown


A sala de cursos Bodebrown



Encontramos em pleno sabadão de carnaval, além do Samuel, outros cervejeiros como o Ricardo Seara, Paulo Cavalcanti e Tiago Falti, que por lá estavam acompanhando seus experimentos, buscando matéria prima, e nos dando o prazer de degustar suas cervejas.


O Samuel começou o encontro contando o motivo do nome Bodebrown. Pernambucano com muito orgulho, ele queria transferir para a marca algo da cultura dos seus familiares e escolheu o bode, sim o bode que é uma preferência regional. Eu mesmo, adorei a carne do bode quando em minhas viagens de trabalho ao sertão da Bahia e Pernambuco. Quem não conhece, deveria conhecer o bodódromo de Petrolina - PE. Uma pena não termos lá nenhuma opção de cerveja artesanal para uma brincadeira de harmonização. E o brown vem do James Brown, que revolucionou a música em sua época. Com esses 2 conceitos, cultura e revolução, de fato a marca traduz o que é o propósito do negócio Bodebrown .




Na sequência fomos apresentados à deliciosa Rio São Francisco Imperial Stout, com muito bem vindos 9% ABV. E depois a maravilhosa Juazeiro IPA e então a grande surpresa do dia a Wee Heavy Scott Ale, a pérola da casa. Seria uma leviandade da minha parte analisar estas obras primas e ser superficial, uma ingratidão. Prefiro a ingratidão do que a injustiça, então deixo algumas fotos dotadas de sabores e aromas, bem como um convite para que conheçam um pouco mais no site da Bodebrown




Eu, Samuel, Ricardo Seara e o meu primo Fábio (futuro aluno do curso de cervejas artesanais)




O Samuel, além de tudo, é um estudioso de espuma. Dá pra perceber nesta Rio S. Francisco Imperial Stout


A famosa Wee Heavy




Depois da degustação, fomos conhecer o "laboratório" como eu classificaria este incrível espaço com diversos tanques de fermentação, equipamentos laboratoriais, e uma fantástica experiência em curso com toneis de madeira.








Eles estão realizando experiências com Umburana, Nogueira, Jequitibá e Carvalho brasileiro e escocês. As amostras, depois de passarem alguns dias adquirindo as propriedades da madeira, vão blendar o volume da mesma cerveja no tanque de maturação e é impressionante como se transformam. Tinha passado aproximadamente a metade do tempo total no barril e já é gritante tanto a diferença entre madeiras, quanto a beleza das cores, aromas e sabores. Tenho certeza que será mais uma obra prima da casa.




Da esquerda para a direita: Wee Heavy sem madeira, Umburana, Nogueira, Carvalho e Jequitibá (vinho)




Pra se ter uma idéia do nível que os caras estão, o Samuel fez questão de nos mostar seu novo brinquedinho, um extrator clevenger, para extração do óleo essencial de frutos, sementes, ervas ou daquilo que quiserem. O Samuel nos trouxe uma amostra da essência de nozes e o aroma é simplesmentes fantástico. Um Nocello! Brincamos de misturar um  pouco numa taça de cerveja e mais uma vez pudemos ter a noção do que vem por aí.




Extator clevenger




Depois de mais de duas horas de muita paciência por parte do Samuel e do Tiago, e muito prazer por parte dos visitantes, tivemos que ir embora, mas dá pra ficar um dia inteiro e aprender a cada minuto. Pra se ter uma pequena noção da grande cortesia deles, eu quis comprar um kit com malte, fermento e lúpulo pra fazer uma receita deles assim que chegar em casa e o Samuel não me deixou pagar de jeito nenhum. Inclua-se neste kit 12 belíssimas garrafas modelo Fuller's que ele importa de Taiwan, sendo 8 vazias e 4 cheias das preciosas IPA e Bock.




Detalhe do bode em relevo na garrafa modelo Fuller's




Samuel, obrigado mais uma vez pela sua receptividade e peço desculpas pelo pouco que escrevi aqui neste post não retratar o quão agradável foi estar na sua cervejaria - escola - laboratório - ponto de encontro - biblioteca - loja - incubadora - brew section.


Espero ver suas cervejas nas prateleiras de BH e de todo Brasil em breve.


Um grande abraço pra você e todos que estiveram com a gente naquela manhã, em especial pro Rafael David que foi o responsável por nos colocar em contato.


Quando forem a BH, serão meus convidados para apresentar-lhes o trabalho da Acerva Mineira, as maravilhosas cervejas dos associados e das microcervejarias mineiras.


Abraços a todos,
Marcos.




Contatos:
Rua Carlos de Laet, nº 1015, Bairro Hauer
Curitiba - PR
(41) 3276-1560/3082-6354
www.bodebrown.com.br

Visita à Canoinhense


Canoinhas - SC, 12/fev/2010


Fizemos uma pausa nas visitas às cervejarias e passamos dois dias literalmente dentro uma vinícola em Bento Gonçalves, a capital brasileira do vinho. A Casa Valduga investe no enoturismo e criou a Villa Valduga para hospedar seus clientes turistas. São oferecidos aos hóspedes, e nós tivemos o prazer de desfrutar, além da confortável pousada, um curso sobre vinhos, degustação, um excelente restaurante e toda uma atmosfera de charme que o universo do vinho proporciona. Imperdível pra quem visita o Vale do Vinho. Mas, como o meu blog e minhas férias são cervejísticas, lá vamos nós.

Acordamos na manha da 6a feira, 12/fev, com muita ansiedade de conhecer a lendária Cervejaria Canoinhense e suas cervejas. Teríamos que enfrentar mais de 450 km de estrada até a cidade de Canoinhas e o tempo não passava. Aliás, as horas passavam, mas sempre parecia que faltava muito, de forma que eu começei a achar que não chegaria a tempo de encontrar a cervejaria aberta e muito provavelmente eu não poderia matar a curiosidade e colocar esta cervejaria no meu curriculo. Isso porque no dia seguinte e nos próximos seria carnaval e muito provavelmente eles não iriam abrir.

Chegando em Canoinhas e nos informando sobre como chegar à fábrica, descobrimos que a cervejaria se confunde com o seu principal personagem, o Sr. Rupprecht Loeffler, o meigo mestre cervejeiro de 92 anos (!).

- Senhor, uma informação por favor, onde fica a Cervejaria Canoinhense?
- A Loeffler?
- Sim.
- Ah, faz assim ó ...

Quando finalmente chegamos, eu mal pude esperar a Daniela estacionar o carro e quando percebi, lá estava eu dentro daquele cenário que me era familiar pelas inúmeras fotos que vi pela internet.

O Sr. Rupprecht Loeffler não estava na sua mesa de trabalho onde costuma passar grande parte do seu dia e eu tive medo de perguntar sobre ele. Fomos recebidos por um de seus funcionários, que depois de uma pergunta sutil me respondeu que o Sr. Loeffler havia acabado de se recolher para sua residência. Fiquei aliviado por saber que o Sr. Loeffler encontra-se em plena atividade de cervejeiro, mas senti um grande pesar de não poder conhecê-lo.


Sr. Rupprecht Loeffler. Foto pública da Wikipedia.


Pra quebrar o gelo do início da visita, uma Mocinha. Não uma senhorita, a cerveja Mocinha, uma das 4 produzidas pela Canoinhense.

A Cervejaria Canoinhense foi fundada pelo pai do Sr. Loeffler em 1908 então deve ser a mais antiga cervejaria artesanal em produção no Brasil! Deve ter sido uma fábrica à frente do seu tempo com os inúmeros e impressionantes equipamentos desenvolvidos pelo seu fundador. Mas hoje, é genuinamente artesanal. Só não é mais artesanal que as caseiras.

Vou tentar apresentar-lhes a cervejaria e seus equipamentos, seguindo a ordem dos processos produtivos, mas nada substitui uma visita, nem mesmo as imagens.

O malte é moído neste moinho de madeira, e depois transferido manualmente para a o tanque de cozimento.


Moinho de grãos


O cozimento do malte tem como fonte energética a lenha, colocada num queimador.


Fogão a lenha


De acordo com o funcionário que nos guiou, a mosturação que é feita sem um controle de termperatura, e a lupulagem/fervura do mosto, ocorrem neste belo tanque em cobre, que tem até pás giratórias para homogenização da mistura.


Tanque de mosturação e fervura


O mosto é transferido então para o seu "chiller", uma bandeja em inox, de aproximadamente 5m x 3m e 20cm de altura e refrigerado a ar por um ventilador.


A bandeja chiller com o ventilador ao fundo


Quando atinge a temperatura de aproximadamente 20 C, o mosto é transferido para o tanque de fermentação. O primeiro não cilindrico que eu vi. Mal pude notar uma tampa. Airlock nem pensar. Morrendo de dúvida, perguntei e o funcionário me respondeu que não há histórico de perda da produção por contaminação. Ufa!


Tanque de fermentação


A cerveja depois de fermentada é transferida para barris de carvalho alemão, que hoje só são utilizados para auxiliar o envase. Não têm mais a função de armazenamento para conferir propriedades de aroma, sabor e cor à bebida.


Barris de carvalho alemão para envasamento.


As garrafas, depois de lavadas manualmente com uma escova num tanque, passam por um processo de sanitização nesta máquina que parece uma roda gigante e coloca em contato as garrafas com uma solução sanitizante disponível na metade inferior, que é uma bacia.


Equipamento para sanitização das garrafas


Depois, as garrafas são colocadas num rack, de cabeça pra baixo, e ficam aguardando o envase. Perguntei se antes do envase elas passariam novamente por algum outro processo, ao que fui informado que não, elas estavam prontas para receber a cerveja. Deus deve ser mesmo muito amigo deles!

Os chopps recebem uma dose de açucar para carbonatação. As cervejas são pasteurizadas e carbonatadas artificialmente, mas ambas as bebidas são envasadas em garrafas de vidro (cerveja, coca-cola, fanta, e etc.) e de pet. A pasteurizadora, uma bacia também em inox com capacidade para umas 800 garrafas, também tem aquecimento da água com forno a lenha. São 3 portas.


Pasteurizador


Os chopps, depois de engarrafados, passam por um equipamento muito curioso. Cada lado da máquina tem um suporte para 3 garrafas, que são acopladas pelo gargalo, cada uma a um balão de aço. Gira-se este suporte, de forma a deixar as garrafas de cabeça para baixo. Por gravidade, o líquido das garrafas é transferido para o interior do balão. Abre-se então a válvula do cilindro de CO2,  pressurizando o balão com a cerveja. Gira-se novamente o conjunto que forma que agora os balões ficam sobre as garrafas de cerveja de cabeça para cima. Abre-se a válvula do balão de forma que, por diferença de pressão, o liquido gaseificado é transferido de volta para a garrafa. Veda-se a garrafa e pronto: chopp pronto para consumo.


Curioso equipamento para carbonatação artificial da cerveja.


Ficamos ainda algum tempo no bar da fábrica aguardando um possível retorno do Sr. Loeffler, que não aconteceu, degustando a Nó de Pinho, a cerveja tipo Kulmbach. Na minha opinião, a melhor das 4.


O bar da fábrica


A Canoinhense produz atualmente uns 1.300 litros/mês das 4 cervejas/chopps:

  • Nó de Pinho, tipo Kulmbach, alta fermentação, 3,2 % ABV;
  • Mocinha, lager com 2,0 % ABV;
  • Jahu, lager um pouco mais amargar e mais alcoólica que a Mocinha;
  • Malzbier.



Quem quiser conhecer a especificação delas, sugiro assistirem ao programa 30 da Bytes and Beer.
Ou então podem encontrar-nos no Frei Tuck. Estou levando 2 kits com as 4 cervejas para uma degustação do pessoal da Acerva Mineira.


A fachada da fábrica e sua semelhança com indústrias alemãs do séc. XIX


O meu objetivo para este post é reconhecer o trabalho do Sr. Loeffler e sua paixão (esqueci de mencionar antes que ele bebe 1 ou 2 cervejas todos os dias) pelo trabalho como cervejeiro artesanal, bem como despertar a curiosidade do leitor pela cerveja, pela cervejaria e pelo Sr. Loeffler. Espero que vocês estejam com a mesma vontade que eu de voltar à Cervejaria Loeffler e degustar uma cerveja ao lado do mais experiente cervejeiro artesanal em atividade.

Prost!


Contatos:
Rua 3 de maio, 154 - Centro
Canoinhas - SC
Telefone: (47) 3622-0358

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Visita à Dado Bier

Porto Alegre – RS, 09/fev/2010

A Dado Bier tem, além da fábrica, 3 mega espaços próprios em Porto Alegre: Dado Bier Bourbon Country, Dado Pub e Dado Garden Grill.

Nós escolhemos visitar o Dado Bier Bourbon Country pela facilidade e pelo horário. Localizado no Shopping Bourbon Country, este espaço conta com 3 ambientes: um restaurante, um pub e um espaço pra crianças, o DaDo kids.

dado_bierFachada da Dado Bier Bourbon Country. Foto do site.

Dá pra passar uma tarde inteira se deliciando com os chopps servidos: Lager, Bock, Royal Black, Belgian Ale e Red Ale. Não sei se pelo horário ou por algum problema, só tínhamos disponíveis o Lager e o Belgian.


DSC_0008-3 Que beleza!!!!


Como diz ditado, não tem tu vai tu mesmo. Almoçamos com o Lager e finalizamos com o Belgian, minha nova paixão.


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Beleza de taça, beleza de chopp!

Sobre o Belgian Ale, coloração alaranjado, um pouco turvo, a espuma não se manteve bem. Doce e BASTANTE alcóolico! Daniela não aguentou beber o dela e sobrou pra mim. Resultado, ela que dirigiu o carro pro hotel.

Não poderia deixar de registrar os tanques de cozimento da 1a fábrica que estão decorando a entrada do restaurante. Fabricação do Ralf Winter da Ralf Beer.

DSC_0018-3 DSC_0019-1
Contatos:
http://www.dadobier.com.br

Visita à Saint Bier

Forquilhinha – SC, 08/fev/10


Fizemos uma pausa nas visitas pra podermos relaxar ao sol em Florianópolis, e que sol! Mas cá estamos de volta.

No caminho para Porto Alegre, fizemos um pitstop em Forquilhinha, uma cidadezinha no Sul de Santa Catarina que nos intrigou. Como alguém monta uma cervejaria e consegue viabilizá-la numa cidade de interior tendo o polo cervejeiro de Blumenau logo ali para sua concorrência? Eis o mistério … que não conseguimos solucionar, mas lá está a cervejaria Saint Bier, firme e forte.


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Bela Fachada da Saint Bier


Na verdade, como quase todas as outras microcervejarias visitadas, a Saint Bier também investiu em chopp (em barril e engarrafado) e num grande brewpub.

Fomos recebidos pelo Giovani Paes, um dos sócios que abriu gentilmente a fábrica pra nos receber numa 2a feira de manhã! Digo, a tarde, porque nos atrasamos na viagem e acabamos chegando por volta das 14h30, muito depois do combinado.

Giovani me contou que seu tio e fundador da Saint Bier, Sr. Abrahão Paes, inaugurou a fábrica em 2008 com capacidade para produção de 100 mil litros de chopp. Além do grande volume de vendas no brewpub anexo à fábrica, distribuem seu chopp puro malte para todo o litoral catarinense, basicamente em barris, mas ainda engarrafam (sem pasteurização, o que tem se mostrado uma forte tendência na região) os seus 4 tipos de chopp: Pilsen, In Natura, Belgian e Malzbier.


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Pra não perder o hábito, degustei imediatamente uma Belgian no bar da fábrica e deixei os outros que comprei pra mais tarde. Dourada e bem turva, com presença de um lúpulo aromático bastante agradável, frutada e um pouquinho doce, este chopp agradou muito mais que os 2 pilsens que experimentei a noite, filtrado e o não filtrado. Estes últimos me parecem ser a grande atração do mercado consumidor sulista, e com pouco amargor e notas de pão, são bons chopps, apesar de não ser o nosso estilo preferido.


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Reabastecido e com um kitizinho básico pra mais tarde, seguimos viagem para Porto Alegre.





Contatos:
Av. 25 de julho, 1303
Forquilhinha - SC
(48) 3463-3400
http://www.saintbier.com